Há sempre uma razão para viver. Podemos elevar-nos acima da nossa ignorância, podemos olhar o nosso reflexo, como o de criaturas feitas de perfeição, inteligência e talento. Podemos ser livres! Podemos aprender a voar!
(Richard Bach "Fernão Capelo Gaivota")

sábado, 17 de dezembro de 2016

Soneto do teu Sorriso


Invadiu-se de ti um sorriso
intenso de incenso e feliz
dias e momentos que coloris
sonho alimenta um improviso .

Uma partitura um adágio
numa calma face despis
ondas e voos que perfiz
belas e venturas presságio.

Se tu linda és agora
silêncio harmonia liso
borboleta flor que aflora.

Doce, frágil, finita  cristalizo
ares e voos no tempo e na hora
musa ninfa que melodizo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sombras ocultas




Já não existe em mim,
sucumbiram por fim,
as palavras gastas e ditas,
restam sombras nostálgicas.

Expõem-se vidas sofridas,
num espectáculo de audiências,
inventam-se mentiras e doenças,
e descarregamos frustrações.

Estudam-nos a mente,
fragilidades e emoções,
em painéis e em ecrãs,
roubam-nos um pouco.

E numa necessidade obscura,
procuramos fama e um sol,
refugiamo-nos no tempo,
lugar, refúgio, assassino.

E num programa de tv,
enxugam-se lágrimas,
sensacionalismo doentio.
audiência sedenta e fria.

E o mundo lá fora gira e gira,
e paramos para ver o espectáculo,
sangue, lágrimas, bombas e assassinos,
mas não paramos para nos abraçarmos.

E o mundo lá fora gira,
divertimo-nos e sorrimos
em inventos de fim-de-semana,
e queremos lá saber do resto.

E tudo tem uma lógica,
uma qualquer explicação,
racional, irracional ou desculpa,
até mesmo amor e o ódio.

Teus olhos se vedem de medos,
refém de uma fútil circunstância,
lobos, vampiros e necrófagos,
esperam comendo restos de ti.

Não adianta fazeres de cristo,
despejares teus temores e traumas,
não adianta te comparares,
é mediocridade avulsa de teu egoísmo.

Não adianta falares de olhos alheios,
comentares fúteis e leviandades e julgamentos,
olha para a tua imagem se tens coragem,
olha a tua figura triste de figurante na telenovela da vida.

E assim nas sombras se escondem
os que ditam o que amanhã serás, farás, obedecerás,
aprenderás, comerás e comprarás, pagarás e morrerás, 
mas nunca lhes conhecerás a face.


C.M.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Tenta Viver


Valerá a pena ser sincero,
quando o mais banal e inofensivo
pensamento é apenas existencial
manipulado e ainda assim sorri.

Valerá a pena remar nesse rio
a que chamamos de vida
onde a corrente e de vermes
sugas, parasitas e necrófagos.

Valerá a pena ser-se como se é
acreditar nas historias que a historia
já conto vezes sem conta
e se repete vezes e mais vezes

A culpa é das estrelas, dessa evolução
somos a aberração imperfeita da natureza
os filhos abandonados de um deus qualquer
o mutante perfeito da radiação cósmica.

Valerá a pena contar as guerras
se outras tantas se seguirão
contar pessoas em saldo monetário
jogar pessoas no tabuleiro das bolsas.

Valerá a pena acreditar na democracia
de quem exista pensando que mais ninguém existe
onde sem ideias caminham premiados e adorados
pelos números que as leva à vaidade e ao poder.

Valerá a pena aprender a viver
dar sentido ao que não tem sentido
dar valor ao que não tem valor
falar de amor como se de uma peça qualquer
que encaixa na imperfeição de uma doutrina.

Valerá ainda a pena a vida
nesta espécie de alucinante viciante
que é a esperança nas promessas
que nos queima numa paralisia colectiva.

E por fim valera a pena
dar o esforço de uma vida por quem nos oferece a morte
o fim da dor sufocante pelo descanso eterno,
a esperança por quem nos dá a guerra
o amor por quem faz do amor uma competição

E no fim valera a pena a palavra
hipócrita na morte avassaladora na vida
demagoga na vida e esperançada na morte
perpetuada e eternizada pelos mesmos assassinos.

Valerá ainda a pena a vida?

C.M.

Herói Invisível


Precisamos do herói invisível
das verdades e honestidades
não precisamos desta fantasia
popular de fantoches e marionetas.

Precisamos de um herói invisível
transparente como agua da fonte
onde criar laços é uma ponte
e o fim do fosso das riquezas alheias.

Precisamos de aprender a escrever
ler e criar riquezas invisíveis
precisamos de partilhar, quebrar
fronteiras, preconceitos e interesses.

Precisamos de quem nos tire dos números
das equações e formulas especulativas
da corrida desenfreada pela meta sem fim
da assembleia que dita as desigualdades.

Precisamos de um herói invisível
incorruptível á demagogia,
ao cinismo e ao sarcasmo,
á morte do pensamento vivo.

Precisamos de quem nos tire do vicio
da puberdade da humanidade,
do ímpio e negro ouro impuro,
dessa alienação que domestica a tua vida.

Precisamos de um herói invisível
que vê para além das estrelas
que pensa livre como uma brisa.
Mas esse herói não existe e ninguém se importa.

C.M.


Vou morrer só
num mar de ideias e pensamentos
vou morrer só
num mar de sonhos e sentimentos

Na vastidão do universo
na distancia entre as estrelas
à vazios que não completo
à silêncios que não me ouvem

Deixei de ouvir as ondas do mar
de sonhar e poder voar
deixei um testamento vazio
de uma voz por calar

E assim deixei o sofrimento
na angustia da morte lenta
por mais que procure a esperança
não a encontro, nem ao vento.

C.M.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Alucinantes

 

alma-morrendo-62c44

 

Raio frequência actividade,

luz, fibra, banda larga, óptica

rápido, alucinante, veloz,

são os fluidos, a quântica do ser.

 

São as ondas cartesianas,

laser, AM e FM, antenas e satélites,

jactos, motores e computadores,

preenchem alucinantes o teu vazio.

 

Serão as distâncias menores,

os aviões mais velozes que a luz,

os carros mais rápidos que o som.

a rotação da terra mais lenta.

 

Os processamentos mais fluidos,

são os terabytes cegos e mudos,

são os megas, três e quatro gês,

são as linhas mais largas.

 

Serão os esgotos mais rápidos,

a gestação mais rápida,

a morte mais esquecida,

e a digestão mais eficaz,

 

Serão os esteróides mais eficazes,

as anfetaminas mais poderosas,

os depressivos mais eficazes,

e os batimentos cárdeos diferentes?

 

Será a escravidão mais subtil,

a guerra mais escondida,

o trafico mais sofisticado,

as armas mais certeiras e devastadoras,

 

Será a terra mais verde,

os ventos mais fortes,

as chamas mais quentes,

a água mais fria e clara?

 

Será o tempo mais lento?

e o espaço mais estreito,

os teus passos mais largos,

o teu ADN mais apurado,

nesta alucinante cegueira colectiva?

 

C.M.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

NOVO SABOR



Conheces o novo sabor,
as novas grades de papel,
a subtil e o sublime tremor,
do dever sim, dos contractos.

Conheces o novo saber,
os números, as formulas,
o poder da especulação,
a raiz do interesse da posse.

Conheces a nova raiz do medo,
e estás farto das doutrinas antigas,
mas uma prisão de papel te repele,
em obediências e assinaturas.

Grades de papel engenhosas,
elaboradas pelo medo de perder,
pela ganância, pelo covil político,
e a democracia a promessa de séculos.

Nessas grades escritas os detalhes,
da tua sentença para a vida,
do teu caminho traçado à nascença,
do número cravado na mente demente.


C.M.